Em 1993 e 1994, tempos em que o São Paulo tinha se consolidado como uma máquina futebolística e Telê Santana, ocupava o posto de principal técnico do futebol brasileiro, Rubens Rewald e Tales Ab’Saber resolveram buscar o comandante são-paulino para fazer um filme.
Telê não respondeu e o filme não aconteceu. Quinze anos depois, o hoje cineasta e professor, ao lado de seu amigo psicanalista, descobriram que, mesmo sem o depoimento do personagem principal, havia uma maneira de chegarem ao cinema. Conseguiram com Esperando Telê, exibido na sexta-feira (29/01), na seleção Aurora da Mostra de Tiradentes.
É um filme fora do comum, mas não digo isso com juízo de valor (para o bem e para o mal), e sim como constatação. Mesmo tendo Telê como seu personagem principal, dá-se o direito de abrir imensos parênteses para falar de Pelé e traz planos longos que mostram anônimos jogando futebol de areia.
Esperando Telê nos ganha por causa de quem os conduz. Rewald e Ab’Saber carregam uma aura de perdedores que nunca vão chegar ao objeto desejado. Vão, uma, duas dez, quinze vezes ao CT do São Paulo sem serem recebidos. Tentam marcar entrevista, mas não conseguem. Estão sempre nas bordas de Telê, sem passar para o lado de dentro.
Tudo isso é muito divertido porque o filme é permeado desse espírito “nóis trupica, mas não cai”. São momentos de boa comédia que, passados quinze anos de quando as imagens foram captadas, os diretores parecem dar boas gargalhadas de como tentaram fazer um filme à época.
Enquanto esperam por Telê, contextualizam o momento do futebol com a final do Paulista entre Corinthians e Palmeiras, a classificação do Brasil para a Copa de 1994 com o 2 a 0 sobre o Uruguai e com a participação de torcedores em volta de estádios, nas barbearias, seguindo a filosofia futebol na boca do povo.
É difícil antecipar Esperando Telê. Quando achamos que vai ficar em imagens chatas do futebol na rua, pula para o Telê. Depois, para Pelé. Depois, para os cineastas na sua busca, depois para o que o povo acha... Um divertido filme sobre um personagem, futebol e, no meio disso, duas pessoas tentando fazer um documentário.
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